sexta-feira, 12 de março de 2010

O tal do saber - Professor-aluno: uma relação em transformação

Discutir a relação professor-aluno é essencial quando se debate sobre a educação nos dias de hoje.

Ao contrário da educação tradicional, que estabelece suas diretrizes fundamentadas no pensamento cartesiano, a educação evolutiva se propõe a analisar mais amplamente todos os aspectos envolvidos nos processos de ensino-aprendizagem.

Tradicionalmente, para que aconteça a educação formal, basta que exista de um lado a figura do professor e de outro lado a figura do aluno. Dentro dessa premissa o professor é o detentor do saber, tem o conhecimento absoluto sobre aquela disciplina e seu papel se restringe a passar esse conhecimento para seu aluno. O professor desconsidera todo o contexto, as diferenças individuais entre seus alunos e, conseqüentemente, a singularidade de cada relação. Existe o saber pronto, fechado, absoluto e imutável. Ao aluno resta o papel passivo de receptor do conhecimento. Portanto, quando a aprendizagem não é bem sucedida, não resta dúvida: o professor é incompetente ou (o que é mais comum), o aluno tem alguma deficiência. A educação tradicional, como toda prática fundamentada no pensamento linear, impede o crescimento, restringe o conhecimento e impossibilita o exercício do novo.

Pensar a educação a partir do paradigma sistêmico e evolutivo é em primeira instância considerar o aspecto relacional do processo ensino- aprendizagem. O professor torna-se um mediador e facilitador dos conteúdos da disciplina. O conhecimento circula entre as partes envolvidas e está em constante evolução. Para que o processo se desenvolva com competência é preciso considerar o contexto em que essa relação está inserida, assim como as idiossincrasias de cada indivíduo. É fundamental que o professor conheça seu aluno, em que fase do ciclo evolutivo ele se encontra. Portanto, ser professor de uma criança é diferente de ser professor de adolescente, que é diferente de ser professor de um adulto, mesmo que o conteúdo seja semelhante. A relação que se estabelece é fundamentalmente diferente, pois as respostas serão diversas, baseando-se em cada indivíduo.

A educação evolutiva é um sistema complexo, que envolve variáveis múltiplas; dinâmico, em constante transformação; co-construído, onde as duas partes envolvidas são responsáveis pelo processo de aprendizagem.

A construção do saber inevitavelmente implica em estar disponível a aprender. É necessário aprender a aprender.

O principal desafio para professores e alunos é se tornarem parceiros nessa construção.

Palestrante: Marilza Fricher

5 comentários:

  1. Toda vez que eu leio esse blog eu fico chocada com o quanto o que é escrito aqui não condiz com o que eu vivencio dentro da Escola de Design. Tudo que NÃO é considerado por uma boa parte dos professores do curso de Artes Visuais é o contexto e a idiossincrasia dos indivíduos. Só escrevo estas linhas por estar de molho em casa com uma infecção na perna, impossibilitada de andar e com febre, e ainda assim temendo ter que repetir pela segunda vez uma matéria (a qual estou repetindo por frequência) pq não pude comparecer à aula hj.

    Sabe, o pior disso é a humilhação de se expor, coisa que eu preferia, honestamente, não ter que fazer e que se pudesse não faria. Agora, Inês é morta.

    Sou cobrada, por exemplo, por ficar fora da aula, num episódio em que fiquei na porta da oficina chorando por 2 horas sem parar pq eu sofro de depressão e, mais uma vez, numa exposição que eu preferia nunca ter me submetido, quase todos meus professores sabem.

    Suponho que o correto seria que eu entrasse na aula, passando por uma crise depressiva, e tentasse acertar minha própria cabeça com a serra circular. Soa como uma boa idéia? Porque atirar coisas nos professores, quebrar portas, ameaçar pular do prédio da escola, outros alunos já fizeram.

    É um absurdo chegar aqui e ler esse texto. É de uma hipocrisia assustadora.

    Fala-se muito, incentiva-se o diálogo enquanto esses culminam da humilhação e frustração dos alunos. Pra mim isso é de um desrespeito imperdoável. Porque se o meu contexto só gera um "sinto muito" eu prefiro guardá-lo pra mim e para os meus amigos íntimos.

    O pior é que o que estou dizendo é só a ponta do Iceberg, é só UMA das coisas absurdas que EU passei como estudante de Artes Visuais da Uemg. É só o que eu estou passando hoje. Então eu gostaria verdadeiramente que vocês botassem a mão na consciência antes de publicar na internet esses textos enganosos.

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  3. Terminei de ler esse texto e comentei com uma pessoa próxima: eles deviam ter medo de postar tanto absurdo na internet (logo onde), depois de tantos ocorridos dentro da ED, justamente por esse pensamento duas-caras.

    Se a UEMG - especialmente o curso de Artes Visuais e seus professores - opta por não seguir os padrões tradicionais da educação formal, mas sim, por buscar a educação evolutiva descrita no texto, eu realmente acho que entro em mundo paralelo a cada vez que piso dentro de uma sala de aula.

    Não vejo um ou dois alunos (da licenciatura, apenas) ali com problemas insolúveis, com professores e/ou coordenação. Vejo vários. E os problemas são insolúveis justamente pela predominância da mentalidade "tradicional" que se mantém tão vigorosa e que tentam mascarar de forma tão porca.

    Eles - professores e coordenadores - são os sultões do saber e do regimento, e ambos são imutáveis. Mas são sultões completamente cegos e surdos. Os alunos são tratados como meras máquinas ignorantes, que não têm mínimas expressões próprias ou problemas pessoais. Os cursos atrasam, alunos (as vezes, os melhores deles) são jubilados por simples falta de diálogo e intolerância daqueles que sobem no palco e se acham detentores do saber absoluto.

    A ditatura mandou um abraço. Afinal, estamos falando de um curso de ARTES Visuais em que o aluno é praticamente proibido de se expressar ou ter opiniões, ou propor novas formas de viver o seu mundo acadêmico. Abertura essa que já vemos em muitas universidades, públicas e privadas.

    Infelizmente, ainda falta muito para o curso de Licenciatura em Artes Visuais construir o seu modelo de "educação evolutiva". Com mudanças de mentalidades e uma REAL evolução.

    Por fim, concordo plenamente em uma coisa: É necessário aprender a aprender. E acho que aí mora a "livre interpretação".

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  5. "O principal desafio para professores e alunos é se tornarem parceiros nessa construção."
    Parceria na Escola de Design é utopia.Da mesma forma que repenso os dizeres tão exaltados durante o curso sobre as teorias da educação de Paulo freire, Augusto Cury e Ana Mae.Se soubessem os educadores que são formados modificariam todo conteúdo de suas obras e escreveriam o oposto,lendo-se que se o praticado em sala de aula na escola de Design é o oposto do que seus estudos propõe, talvez propondo o oposto objetivos sejam alcançados.
    Penso além da sala de aula,mas nos profissionais que na ED se formam, pessoas que são escolhidos por Artes Visuais,mas precisam atrelar a licenciatura nessa opção.
    Um curso que não tem voz e o aluno não tem vez.Quantos educadores foram concluíram graduação no Curso de Licenciatura em Artes Visuais até 2010?Desses, quantos se diferenciam de vocês em sala de aula?Quantos aprenderam a questionar, dialogar, pensar criticamente?
    Vejo cordeirinhos sendo formados, dentre eles,alguns que lutam por uma profissão digna ou ao menos uma passagem na vida acadêmica que se preze.
    O diálogo não existe.Não importa se você está bem de saúde, se sua casa foi alagada, se um parente faleceu recentemente, nada importa.O que valorizam é sua presença em sala, mesmo que ínfima e sem acrescentar algo novo ou positivo.
    Coloquem no próximo edital do vestibular os pré-requisitos para estudantes de Artes Visuais: Apáticos , sem problemas físicos/sociais/financeiros , que não questionem, gostem de produzir bandeirinhas de festa junina e artesanato pet.
    Parabéns, estão formando 90% de educadores tão alheios às percepções de mundo quanto vocês.Graças aos 10 % que conseguem sobreviver.

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